domingo, 16 de agosto de 2009

o balanço

papai só nos buscava quando acabava de tirar o leite das vacas e o sol teimava em alumiar o dia. chegávamos na fazenda loucas que o outro dia fosse logo o outro dia para as brincadeiras que nos esperavam em flor.
lembro-me até hoje quando papai, com todo ritual de amor, ia fazer os nossos balançadores e ao terminar tal tarefa brincante, colocava-me no balanço e dava o primeiro empurrão dizendo:"voa vim vim", e com minha voz infantil eu dizia:" voando papai!"
ao entardecer, após as labutas domésticas, mamãe nos chamava para o momento de consagração da felicidade: era a hora de fazer nossas bonecas de pano com longos cabelos pretos e vestidas de retalhos de chita que eram guardados o ano inteiro.
como e bom saudosiar, o paió era o lugar dos segredos e dos sonhos, papai armazenava as espigas de milho para alimentar as galinhas, os perus, os -fraco, também lá as galinhas botavam seus ovos e ficávamos felizes ao encontrar um ninho cheinho de ovos... era um tesouro! tudo era lúdico: bonecas de sabugos lindas que só os nossos olhos infantis poderiam enchergar tanta beleza, fazíamos casinhas, vestidos e peitos de cera de abelhas para as mães e mocinhas - tudo escondido de mamãe - pois botar peitos em bonecas era escandaloso.... também lembro de uma certa vingança de minha irmã mais nova... como chorei! ela pediu para papai cortar as cabeças de minhas bonecas dizendo para ele que eu adorava toim, que era o nome de sabugos sem cabeça. papai e mamãe quando viram meu rosto banhado em lágrimas, fizeram tudo para me consolar, prometeram encontrar novas bonecas sem nenhum defeito, pois era difícil encontrar rostos bonitos em meio as espigas envelhecidas pelo tempo...
o outro dia raiou com suas promessas de novos brinquedos: galinha de pereiro... corríamos para achá-las no chão entre as moitas de mato, cada vez que achávamos uma era alegria e felicidade e voltávamos com o bornal repletos de novos sonhos para mais um dia de brincadeiras... e as burras-leiteiras! era a festa do dia ... papai buscava na mata e mamãe fazia os caçoas e sacos de mantimentos para colocarmos nas costas, mas antes as orelhas eram feitas de palitos , as pernas de pauzinhos cortados bem certinhos, a canga. também era o dia todo de brincadeira, era o dia todo fazendo a tropa de burras correrem nas veredas de nossos sonhos...
um dia, vim vim sumiu no mundo... de pássaro frágil e pequeno teve que aprender o exercício de ser águia e subir no mais alto monte e se ritualizar para novamente viver... exílio, dor, medo.
também resurgio das cinzas como a fê nix para marcar o tempo da vida... mas hoje, essa menina do mundo encantado, sonha em ser vim vim de novo.
gigi pedroza