segunda-feira, 12 de agosto de 2013

a cigarra

a cigarra


agosto mês quente e mortal. as cigarras começaram o seu canto de morte. fico a escutá-las e surge em mim dois sentimentos: alegria porque o seu cando adivinha chuva e tristeza porque o seu canto é pra morte. elas cantam cantam e explodem. deixando uma nova vida que nascerá e também por uma invernada  irá morrer. circulo mortal. as pessoas nem se apercebem dessa dor. se incomodam apenas, pois o seu canto é forte e mortal. me sinto culpada por me alegrar com este sinal que vem da morte. a chuva logo virá e banhará a terra. os homens plantarão suas colheitas. os rios se tornarão caudalosos. escuros. as crianças soltarão suas pipas. o vento ficará bom. as cigarras morrem. os telhados serão lavados. a passarada cantará em festa. as árvores dançarão conforme o vento. as cigarras morrem. as mulheres ficarão nas calçadas. falarão de suas vidas. eu me guardarei calada. os dias se alumiarão. a rádio falará da chuva e dos córregos ligeiros que avançarão nas casas. e os desabrigados silêncio.  defesa civil não chega. os móveis viram barquinho na enchorrada. as cigarras morreram. não há mais canto. não há mais lembrança. não há mais alegria. meu coração se esconde. silencio.
gigi pedroza
12/08/2013