quarta-feira, 11 de julho de 2012

Luisa


Luisa



As folhas secas na terra escaldante dava a Luisa uma visão da vida destroçada dos acontecimentos. Homens tristes e cabisbaixos andavam em movimentos circulares como suas próprias vidas. Havia no ar uma música mortal. Os animais baliam com dolorido medo, pois a fome era grande. Alguns já não se aguentavam em pé para alimentação rara dos últimos dias. A pastagem rareava. Os urubus na espera lenta e certa de uma farta refeição os cercavam. Nada era possível ser feito, pois a estiagem havia se estabelecido. Luisa em agonia saiu da realidade e se escondeu no canto da sala em busca de felicidade. Sonhou com o riacho de sua infância. Água límpida e pedrinhas brancas eram o seu tesouro. Havia chovido durante toda a madrugada. Ele transbordou e o povo admirava a enxurrada. Lembrou-se de tempos tão antigos e distantes. Seu pai atravessando cada filho em seu cavalo, pois as águas eram profundas. Cada filho tinha os seus medos e valentia. Luisa não. Lutava e chorava e dizia que iria morrer. O pai paciente e amoroso lhe dizia para confiar. Luisa chorava e se entregava ao medo da morte. Quando atravessou estava pálida e tremula, deram-lhe água com açúcar para beber. Tudo foi encerrado ali mesmo, ninguém se preocupou mais. As crianças chegariam à escola. Era necessário continuar. O pai voltaria para lida. Os filhos aos livros. Realidade. Luisa já é avó. Percebe que não há mais cavalo e nem riacho. Animais mortos por toda estrada e urubus em voos rasantes, pois a comida é farta. A seca se estabeleceu. O pai já morreu. Luisa olha o tempo presente e decide que não voltará nunca mais. Há um tempo de partida e de homens partidos. Luisa sabe. Decidida, não olha para os lados e nem para o antigo riacho. Sabe que o melhor é partir, pois não há mais nada. Só as lembranças que carrega com sua própria dor de mulher que perdeu e diluiu, nos cantos do mundo, a sua história.

Gigi, 27/05/2012

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