Trave
Hoje eu acordei com vontade de
escrever sobre futebol. Assunto que não entendo nada. Apenas que há um espaço
desenhado para uma bola e várias pessoas correrem, e em um determinado tempo –
se a sorte ou talento permitir – um gol é feito. Torcida em êxtase grita,
chora, xinga e até mesmo pede pro santo para o seu time ganhar. Observo que
quartas e domingos a família se divide se a casa não tem o mesmo sentido,
entendimento. É gol na trave familiar. Mulher se zanga. Filhos... Bem, nesse
momento pode haver um meio de campo. A família se parte ao meio – dois times
entram em campo. Quem assiste e veste a camisa do time do pai – esse –
paciência, o paizão orgulhoso lhe explica tudo. Mas se há outro que prefere ler
poesia não rola se quer escanteio, pois já se encontra nele definitivamente. A
doméstica da casa de uma vida inteira, em pequenos muxoxos, toma partido do
pobre garoto que entre fogos de artifícios e outro, tenta ler um verso de
Baudelaire. Pobre minino no meio dessa
casa de doido... Valei-me meu pai! Vai doecer. Pega na geladeira uma laranja-cravo
e leva para ele. A patroa fala-lhe qualquer coisa que não é entendida e vai as
compras para desopilar a solidão e raiva. É sua vingança desesperada. É pênalti
no cartão do marido. Mas voltando a minha vontade súbita de escrever sobre
futebol, coisa que não entendo nada, já disse. Foi porque em um bar entre uma conversa
e outra sobre política local e campanha, o celular tocou e alguém falou consegui a bola! Avisa pra candidata que
tudo está resolvido pra comunidade. A interessada, no caso, vibra com a
notícia e diz essa é do c. é a bola
oficial do time e coisa e tal. O povo vai ficar feliz pra caramba. Esse cara é
a peste de descolado. Fala que valeu! Então, pela lateral eu saio do
espaço-tempo e lembro-me do tema da prova de redação de meu vestibular:
futebol. Eu já sabia que seria um merda escrever sobre isso, mas iniciei o texto
com o seguinte título: futebol, ópio ou
não o povo gosta e é feliz. Segui a linha do pensamento e pra surpresa
maior foi muito bem aceito e passei no vestibular. Finalizei com um verso de
Fernando Pessoa com trocadilho e tudo imaginem o susto do professor que
corrigia... Tudo vale a pena se a alma
não é pequena. Saímos do bar e pensei no monstro assustador que é os
bastidores da política e vi que também não só no futebol como na vida de um
candidato há tiros de meta e saber jogar é a saída. Para aquela comunidade o
gol foi feito.
gigi pedroza
13/06/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário