quarta-feira, 11 de julho de 2012

Trave


Trave



Hoje eu acordei com vontade de escrever sobre futebol. Assunto que não entendo nada. Apenas que há um espaço desenhado para uma bola e várias pessoas correrem, e em um determinado tempo – se a sorte ou talento permitir – um gol é feito. Torcida em êxtase grita, chora, xinga e até mesmo pede pro santo para o seu time ganhar. Observo que quartas e domingos a família se divide se a casa não tem o mesmo sentido, entendimento. É gol na trave familiar. Mulher se zanga. Filhos... Bem, nesse momento pode haver um meio de campo. A família se parte ao meio – dois times entram em campo. Quem assiste e veste a camisa do time do pai – esse – paciência, o paizão orgulhoso lhe explica tudo. Mas se há outro que prefere ler poesia não rola se quer escanteio, pois já se encontra nele definitivamente. A doméstica da casa de uma vida inteira, em pequenos muxoxos, toma partido do pobre garoto que entre fogos de artifícios e outro, tenta ler um verso de Baudelaire. Pobre minino no meio dessa casa de doido... Valei-me meu pai! Vai doecer. Pega na geladeira uma laranja-cravo e leva para ele. A patroa fala-lhe qualquer coisa que não é entendida e vai as compras para desopilar a solidão e raiva. É sua vingança desesperada. É pênalti no cartão do marido. Mas voltando a minha vontade súbita de escrever sobre futebol, coisa que não entendo nada, já disse. Foi porque em um bar entre uma conversa e outra sobre política local e campanha, o celular tocou e alguém falou consegui a bola! Avisa pra candidata que tudo está resolvido pra comunidade. A interessada, no caso, vibra com a notícia e diz essa é do c. é a bola oficial do time e coisa e tal. O povo vai ficar feliz pra caramba. Esse cara é a peste de descolado. Fala que valeu! Então, pela lateral eu saio do espaço-tempo e lembro-me do tema da prova de redação de meu vestibular: futebol. Eu já sabia que seria um merda escrever sobre isso, mas iniciei o texto com o seguinte título: futebol, ópio ou não o povo gosta e é feliz. Segui a linha do pensamento e pra surpresa maior foi muito bem aceito e passei no vestibular. Finalizei com um verso de Fernando Pessoa com trocadilho e tudo imaginem o susto do professor que corrigia... Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Saímos do bar e pensei no monstro assustador que é os bastidores da política e vi que também não só no futebol como na vida de um candidato há tiros de meta e saber jogar é a saída. Para aquela comunidade o gol foi feito.



gigi pedroza

13/06/2012

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