domingo, 2 de novembro de 2008

adrina

tomando sorvete lembrei-me com saudades de adrina. uma mulher maravilhosa, reservada ao templo familiar: casa, marido, filhos.
nunca nunca se via adrina desnecessariamente, apenas no imprescindível momento de sua presença. igreja, feira, velório de amigos que se iam. havia reservas. ingratas reservas. eu criança, menina levada, mas sensível compreendia o imcompriendido. mamãe, as vezes dizia: "não seja curiosa... a vida é ingrata com os inocentes". eu refletia até doer o calar da voz.
hoje lembro de tudo e vejo claramente que a sociedade se faz de palmatória do mundo sem que se escute os gemidos do sofredor. e exactamente pergunto-me: qual o direito reservado tão pungentemente de acoar os mais simples em seu desejo de ser apenas feliz? eu era criança mas sentia o castigo imposto aos que ousavam ser. adrina com toda dignidade se fez mulher de e mãe de seus filhos, como talvez nenhuma outra mulher saberia ser e faria com tamanha grandeza e benignidade.
eu simplesmente amei esta mulher como se ama uma mãe no momento primeiro de nosso encontro. foi fantástico atravessar o corredor, um pouco sombrio, sala, quartos, em fim - a cozinha. ela fazia sempre um bom jantar. inesquecível Baião-de-dois. convidou-me carinhosamente e me fez centar com silvinha, minha amiga e colega dos segredos de infância. riamos tanto... éramos felizes. adrina sempre carinhosa permitia que brincássemos sempre. nunca queríamos nos deixar.
foi um tempo feliz de passado que se faz presente nas marcas que o tempo nos reservou para as saudades.
gigi pedroza

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