domingo, 2 de novembro de 2008

a casa

tinha cheiro de jasmim. talvez a mulher cuidasse disso. faz tempo, mas exalava essa felicidade primaveril.
a criança calada, cheia de cisma, olhava o santo que olhava ela. tinha medo um pouco, pois sabia que ele via tudo. a mãe que dizia isso. ela era pia nos dizeres da mãe. ela acreditava. acreditava até na caipora e levava fumo roubado só para vê-la. nunca, nunca via. era o mistério da infância dominado pelos mitos.
um dia fazia xixi acocorada, e com um pequeno graveto modelava vestidos de bonecas nunca feitos. mas era uma brincadeira de sonhos, fantasia e felicidade pois a bela terra seca, dura da grande estiagem, com o xixi molhando-a, dava á menina imaginação. bom mesmo era quando chovia, o terreiro virava sua tela gigante, desenhava tudo. desenhava a imaginação e sonhava com o encantado.
a mulher gritava sempre alguma coisa, apenas para saber-lhes os passos. a menina respondia "já vou mamãe", mas nunca ia. era o costume de todos os dias.
um dia a menina disse adeus ao jasmineiro de sua imaginação, ao terreiro, ao seu mundo. disse adeus para a mulher e sumiu nas costas do mundo.
a mulher morreu. a menina morre devagar todos os dias.
gigi pedroza

Nenhum comentário: